Ser masoquista pode ser bom

Sadomasoquismo

É excelente quando tudo corre bem. Os resultados ultrapassam o esperado, os clientes entram por nossa casa adentro, o cash-flow acumula-se, a euforia está no ar, a sensação de que somos melhores do que a concorrência está à flor da pele.

Adoro a sensação.

Mas este cenário encerra um risco. O risco da arrogância da vitória.

A história está cheia de exemplos de belas empresas que, arrogantemente, descansaram à sombra do seu sucesso. “Se somos tão bem sucedidos hoje, graças à nossa genialidade, é óbvio que amanhã continuaremos a ser geniais. E, por arrasto, continuaremos a ser bem sucedidos.” A armadilha da vaidade está sempre à vista mas, geração após geração, o ser humano fica lá preso.

Creio portanto ser necessário, mesmo nos momentos em que as coisas correm bem, e mais ainda quando há alguns indicadores menos interessantes, que se institua uma cultura de pré-pânico. Uma cultura em que, sem se chegar ao pânico, não se deixa demasiado espaço para relaxar, uma cultura em que a sensação de finitude do sucesso está sempre presente.

Sejamos claros: é da natureza humana relaxar quando as coisas estão bem – é inteligente, do ponto de vista de alocação de energia – o problema é que o mundo, e sobretudo o mundo empresarial, é tão dinâmico e tão volátil que, se o relaxamento se institucionalizar, não se conseguem mobilizar as energias necessárias para antecipar problemas futuros e resolver problemas presentes, com a argúcia e agilidade que se conseguiria num ambiente de menos certezas.

Naturalmente que não defendo que as pessoas não relaxem – eu próprio tenho vindo, ao longo dos anos, a aprender a dedicar mais tempo ao descanso e relaxamento – o que sim defendo é que as empresas não relaxem. Não acho nada que uma organização deva relaxar. A tranquilidade organizacional facilmente redunda em marasmo – ainda que inconsciente – com consequências que só podem ser negativas.

Claro que o risco desta perspectiva é passar-se às equipas demasiada ansiedade e uma sensação de permanente frustração. É um risco que deve ser controlado contudo, no limite, entre um estado de quase-frustração e um estado de regozijo cristalizador por resultados passados, opto claramente pela primeiro.

Talvez esta opção revele uma tendência algo masoquista mas, neste particular, diria que o masoquismo daquele que nunca se satisfaz verdadeiramente ou durante demasiado tempo, é um masoquismo útil. Um masoquismo que fará as suas vítimas mas que, porventura, será mais eficaz na criação de empresas vencedoras. A consciência apurada da necessidade de construção hoje, dos resultados de amanhã, desperta os nossos sentidos e prepara-nos para as batalhas que temos que travar.

A força da repetição

Sou um praticante júnior (bastante júnior) de Krav Maga, arte marcial israelita. Tem componentes

de boxe, ju-jitsu, wrestling, etc. Há combate em pé e no chão. Há combate de mãos nuas e contra

arma branca. Inclui também movimentos de defesa contra arma de fogo. E por aí fora.

Sou um tipo que nunca fez exercício de forma dedicada ao longo da vida e, menos, artes marciais

ou desportos de combate.

Hoje, faço algum esforço para aprender. Às vezes é frustrante. Por várias razões – e nem vou

considerar as de natureza física. Primeiro, porque adquirir proficiência no gesto técnico é difícil.

Segundo, porque é difícil recordar aquilo que se aprende num treino, no treino seguinte. Terceiro,

porque o automatismo, quando o contexto se altera um pouco, tarda em aparecer.

Olho para os colegas de nível mais avançado não sem inveja. Que bom seria se, com o (não)

esforço de um clique, garantisse o download de todo aquele conhecimento de forma imediata!

Claro que há dois aspectos que me afastam muito dos colegas mais avançados. O primeiro é que,

na maioria dos casos, iniciaram este treino numa idade bem inferior àquela em que eu

comecei. O segundo, mais importante, é que já repetiram aqueles gestos milhares de vezes mais

do que eu. Começar mais cedo ajuda, está claro, desde logo porque permite ter-se mais tempo

para repetir mais vezes.

Hugo Belchior Krav Maga

A proficiência numa qualquer actividade terá certamente uma componente de predisposição

individual – por mais que treinasse, nunca seria um Messi – contudo, porventura com excepção

dos verdadeiros outliers, a proficiência vem apenas da repetição. Afincada, dedicada, sistemática.

E, naturalmente, corrigindo os erros. Dia após dia. Repetição após repetição.

Se isto se aplica em qualquer actividade desportiva, também se aplica na gestão. Quanto mais

vezes conduzo reuniões e melhor as quero conduzir, tendo a melhorar neste aspecto. O mesmo

para análises financeiras, campanhas de marketing, conversas difíceis com colaboradores,

negociação com fornecedores, e por aí fora.

Uns com mais facilidade do que outros, todos aprendemos. Agora, será que todos temos a

mesma fome de aprender? A mesma determinação para repetir? E se, em cada uma das coisas

que fazemos, tivéssemos a determinação e dedicação de um Cristiano Ronaldo? Ou a paixão que

o Ayrton Senna tinha?

É hora de descansar. Ainda estou a recuperar do treino de Krav Maga de ontem. E ainda por cima

foi combate no solo. E, mais uma vez, ficou dolorosamente claro que tenho que treinar

muitas mais vezes. Milhares de vezes!

O valor do valor que acrescento

Recentemente fui convidado para uma palestra numa instituição de ensino superior, organizado pelo respectivo gabinete de apoio à inserção na vida activa.
Depois de uma parte mais expositiva seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas.

A última pergunta que me fizeram foi “quanto acha que deve ser o valor mínimo que um profissional de saúde deve ganhar?”.

Respondi genuinamente que não sabia. E não sei. Não sei qual deve ser o preço (valor que essa pessoa deve cobrar) sem saber o valor que acrescenta (o que valem os resultados do seu trabalho). De forma propositadamente provocatória, disse que alguém pode receber o ordenado mínimo e estar, porventura, a ser demasiado bem pago…

Digo isto, com o risco de ser mal interpretado, para ilustrar uma ideia que aqui queria hoje deixar: a ideia de valor acrescentado. E a ideia é bem simples e aplica-se a indivíduos e organizações: aquilo que cada um recebe – em condições de normal concorrência – depende em larga medida do valor que consegue acrescentar. E esse valor tem inevitavelmente que ser traduzido em resultados: se não houver quem pague por aquilo que produzo, não conta.

Este conceito pode às vezes parecer cruel e afasta-se seguramente daquilo que muitas vezes está enraizado na nossa cultura de matriz católica, onde o esforço – o caminho pré-resultado – é valorizado em si mesmo. Acontece que, o mero esforço, sem resultado, não tem valor económico. Ou melhor, terá talvez um valor bem inferior às expectativas de quem o produz e, por arrasto, leva a remunerações (salários ou dividendos) mais baixos do que o desejado.

Quem produz um trabalho de mais valor acrescentado? O agricultor que, esforçando-se à exaustão, lavra um pequeno terreno com o seu arado puxado por uma junta de bois, ou o condutor de um moderno tractor que, na mesma quantidade de horas, lavra uma quantidade de hectares muitíssimo maior, porventura até com o conforto do ar condicionado? Alguém poderá dizer que o agricultor do arado se “esforçou” menos do que o condutor do tractor? Mas, poderá alguém, com honestidade intelectual, dizer que os trabalhos valeram o mesmo, uma vez que o retorno que um poderá retirar é muitíssimo menor que o do outro? (se ambos plantarem batatas, o velho agricultor seguramente terá muito menos toneladas de batatas para vender do que o aquele que usa meios mais produtivos)
arado
É hora de se deixar o esforço como métrica – por mais meritório que possa ser – e passar a focar-se mais na rentabilidade, no resultado. É a solução mais justa porque é aquela que poderá melhor remunerar quem o mercado decide, livremente, que acrescenta mais valor.

E isto não se aplica no éter. Aplica-se nos fisioterapeutas, nos personal trainers, nos explicadores, nos futebolistas, nos vendedores de gelados e em todas as empresas.

Escrevo estas linhas e forço-me a pensar na minha própria vida e na das minhas empresas. Quando uma coisa corre menos bem a tentação de arranjar desculpas externas pode ser grande. A concorrência, o mercado, os colaboradores, o que seja. E se isso pode efectivamente contribuir para o problema, o busílis estará sempre na valorização do valor que estou (ou não) a acrescentar e na proporção de custos que a sua produção está a exigir.

Termino o texto e vou trabalhar, arduamente. Porque isto de tentar acrescentar valor dá muito trabalho!

Uber, Sindicatos, Ordens e a necessidade de proteger o cliente…de si mesmo

UberJá muito se falou sobre a decisão do tribunal sobre a operação da Uber em Portugal, tendo deliberado no sentido da sua proibição. Deixo desde já claro que independentemente do juridiquês que aqui se possa aplicar, sou por princípio contrário às decisões que visem a manutenção de quem já está no mercado, protegendo-os de concorrentes mais inovadores.
Não me vou alongar excessivamente sobre este facto em concreto até porque me revejo bastante no artigo de José Manuel Fernandes, no Observador, e cuja leitura aconselho.

O que me importa aqui explorar é que esta postura de defesa dos poderes instalados é transversal a vários blocos da sociedade portuguesa. Demasiados. Os tribunais serão apenas um deles. Os sindicatos e as ordens profissionais – que na maior parte dos casos, nada mais são que sindicatos travestidos, apesar da sua missão ser a defesa do interesse público e não a defesa da corporação, são outro dos blocos que seguem o mesmo registo.

Conheço especialmente o sector da saúde e o das suas corporações. Em todas que vou conhecendo, sem excepção, há uma brutal pulsão regulatória e proteccionista. Uma pulsão sistematicamente apresentada externa e internamente como algo que visa a defesa do superior interesse do utente (curiosamente, muitas das posições, desde logo no que toca aos “limites de actuação” de cada profissão, são muitas vezes concorrentes, ficando-se sem saber quem melhor defende os interesses dos cidadãos…), procurando-se omitir o óbvio: aquilo que realmente se visa é proteger a corporação e os seus actores actuais (e nem sequer, obviamente, os seus actores futuros).

É tão mais sedutor proteger juridicamente um qualquer mercado do que ter que o proteger pelo  real valor acrescentado dos seus actores – o que implica ter que antecipar ou reagir à concorrência, desde logo à concorrência disruptiva – que, definitivamente, não há corporação que não tente seguir este caminho.

A história da Uber e da reacção dos taxistas adquire assim um impressionante paralelismo com o atavismo de tantas corporações profissionais: quer-se limitar a concorrência, mesmo que essa concorrência seja sancionada pelos clientes!

O desprezo pelo cliente, pela sua liberdade de escolha e, por esta via, o fim do incentivo à inovação, é angustiante e não augura nada de bom neste velho Portugal e nesta velhíssima Europa. Nestes momentos temo, ainda com mais intensidade, pelo nosso futuro colectivo e dá-me vontade de emigrar. Não à procura de subsídios, mercados maiores ou melhor clima. Emigrar apenas em busca de maior liberdade! Em busca de um lugar onde os poderes instalados podem efectivamente ser desafiados, sem ter que se bloquear a inovação com providências cautelares ou greves. Um lugar onde é o cliente – cada um de nós – que está no centro das preocupações. Um lugar sem rendas garantidas para quem presta um serviço, seja ele qual for. Um lugar onde o rendimento vem do mérito, determinado pela livre escolha do cliente.

Felizmente, naquilo que posso controlar, que é a estratégia da minha empresa, já vamos dando passos no sentido de estarmos menos dependentes do jugo opressor da velhinha pátria e do abraço protector – Graças a Deus – dos nossos taxistas, tão zelosos dos seus serviços de excelência…

Ninguém gosta de restaurantes vazios

mercado-de-san-miguelPor razões profissionais, passei os últimos dias em Madrid – estamos num processo de internacionalização da Bwizer – e na passada noite de 6a dei comigo a jantar pelo centro. O meu primeiro impulso foi ir ao mercado de San Miguel – espaço bem movimentado e muito animado – contudo, como estava um pouco cansado, pensei que o melhor seria comer sentado – tarefa quase impossível no mercado de San Miguel.
Fui então caminhando sem destino.
Acabei por entrar num restaurante onde vi que muito facilmente teria mesa mas que não estava totalmente vazio.
Para espanto meu, quando entrei apercebi-me de uma zona de balcão bastante preenchida e muito animada. Essa zona não se via de fora.
Mantive o plano e fui para sala de jantar. Precisava mesmo de me sentar!

A certa altura reflecti sobre o meu processo escolha daquele restaurante. E fi-lo, motivado pela análise do comportamento das pessoas que circulavam na rua, e que de onde estava sentado, conseguia ver. Inúmeras pessoas aproximavam-se da porta do restaurante, espreitavam para a sala de jantar, pouco preenchida, e seguiam caminho.
Quantas pessoas mais entrariam no restaurante se vissem o movimento que a zona do balcão tinha? Acredito que muitas mais.
Desconheço se esta estratégia do restaurante é deliberada – fiz algumas perguntas e percebi que trabalham muito com grandes grupos com pré-reserva – o que sei é que gente chama gente. Movimento traz movimento.
É o efeito da “prova social” e da “prova da comunidade”. Sentimo-nos muito mais seguros quando percorremos caminhos onde outros também andam. Tendemos a confiar mais naquilo em que parece que os outros também confiam. Aliás, eu próprio só entrei naquele restaurante porque não estava completamente vazio…

Enquanto estava nestas reflexões, recordei uma reunião que tinha tido no dia anterior. Uma reunião com uma empresa que trabalha na área da performance, e que trabalha com um modelo interessantíssimo, de base americana. E, como trabalham sobretudo no universo corporativo, muitas vezes com executivos de topo, são obrigados a acordos de sigilo, não podendo portanto divulgar quem são os seus clientes ou, pelo menos, quem são os seus clientes individuais.
Durante essa reunião, o responsável da dita empresa lamentava um pouco essa limitação do negócio, com a consciência de que sem essa restrição, o seu resultado comercial dispararia. E por quê? Por que razão gostamos sempre de saber que um produto que nos propomos comprar foi já comprado por outros?

Não sei exactamente quais as razoes que estão na base destes comportamentos. Haverá seguramente imensas, desde logo a nível sociológico. Essa análise, contudo, não cabe aqui; o que me importa hoje constatar é a importância da “prova social”, para o deixar a pensar como poderia aplicar estes princípios ao seu negócio. E até, ao seu marketing pessoal.

Comecemos por este último.

Tem perfil no LinkedIn ? E quantos contactos tem? Meia dúzia? Ou tem umas centenas? Na hora de se conectar a alguém, que perfis tende a privilegiar, aqueles que têm 7 ou 8 contactos ou os quer têm algumas centenas?
Provavelmente, tenderá a valorizar mais aquelas pessoas que têm uma base de contactos mais sólida; sentirá que têm mais valor e, provavelmente, pensará isto porque considerará que se têm tantos contactos é porque também os outros lhe atribuem valor. E assim, o ciclo estabelece-se.

E no que respeita ao nível empresarial?

Usa, por exemplo, uma pagina de Facebook a nível empresarial? E dá a conhecer os seus clientes ou guarda-os a 7 chaves, apenas divulgando os seus produtos numa perspectiva comercial típica? Mostra quem são os clientes que consomem os seus produtos ou prefere não o fazer? Porquê?

Nalguns casos muito específicos, reconheço que a total ausência de informação sobre os clientes poderá fazer sentido; já numa empresa que venda a retalho, dificilmente fará. Na Bwizer assumimos a importância deste aspecto e procuramos utilizá-lo da melhor forma. Desde logo, através da nossa gestão das redes sociais. Mas não só. Aportar “prova social” aos produtos que se vende é um esforço contínuo e, seguramente, um esforço com retorno. Fará mais sentido as empresas comunicarem os seus produtos directamente ou deixar que sejam os seus clientes a fazê-lo? O que trará mais credibilidade (desde que feito com genuinidade)?

E, não posso deixar de esboçar um sorriso quando recordo que, não há muito tempo, um dos nossos concorrentes (da Bwizer) assumia na sua página de FB que não divulgava fotos de cursos para respeitar a privacidade dos clientes (o que, naturalmente, faz todo o sentido se as pessoas não autorizarem a utilização da sua imagem); curiosamente, agora publicam fotos de tudo quanto é curso, mostrando os seus clientes. E fazem bem. Não apenas porque assim envolvem mais os clientes nos seus processos mas também porque, assim, a concorrência (nós) consegue fazer uma melhor análise… 🙂

Quantos aos restaurantes vazios, esses, provavelmente assim continuarão…

Turma Bwizer Mad Abril2015

Cerveja, Sun Tzu e o valor acrescentado

Hofbrauhaus 1Na semana passada fui a Munique para uma reunião e aproveitei para um pouco de turismo. Dei comigo num dos bares tradicionais mais famosos da cidade, o Hofbrauhaus.
É talvez o mais conhecido bar/restaurante de Munique, ponto de paragem obrigatório de cada visitante da cidade, e que figura em todos os guias de viagem. A sua história iniciou-se em 1589 e confunde-se com a história da própria cerveja bávara. Uma bela cerveja, que tem sido testemunha de incontáveis histórias ao longo dos séculos e… de imensas receitas fiscais para o Estado a partir do momento em que os governantes se aperceberam do potencial financeiro de tão apreciada bebida!

 
Este restaurante tem milhares de lugares mas , sistematicamente, não são suficientes para toda a procura. O ambiente é realmente interessante e convida a novas visitas.

Estava eu a degustar, pouco a pouco, 1L daquela belíssima cerveja – depois das 18h não servem menor quantidade – quando decidi ocupar o tempo de alguma maneira.
Vasculhei o meu telefone o descobri a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, livro que nunca tinha acabado de ler.

Estava a ler a obra deste general chinês do séc., VI AC, ainda hoje lido, estudado e seguido, e a beber uma cerveja com 400 anos de história, e pus-me a pensar no conceito de valor acrescentado. (Não sei se abona muito em relação ao meu estado mental mas, foi no que pensei.)
Hofbrauhaus 3
Haverá melhor prova de valor acrescentado sustentado que o teste do tempo? Que marcas (ou produtos) que hoje conhecemos cá estarão daqui a 400 anos? Ou que autores serão lidos e respeitados daqui a mais de 2000 anos?
E, por que é que ainda hoje bebemos aquela cerveja e enchemos o bar – ao ponto de tornar o serviço ao cliente em algo secundário (não é necessário!) – e por que razão continuamos a ler e a estudar Sun Tzu?

Porque milhões de pessoas querem aquela cerveja, naquele bar e, mais pessoas ainda (ou talvez seja ao contrário), querem ler Sun Tzu. Porque lhes reconhecemos valor, em suma!

Mas, o que é ter valor acrescentado? É conseguir aportar alguma vantagem ao consumidor e/ou promover um ímpeto de adicional de compra – não há valor acrescentado se não se traduzir em sucesso comercial.

As razões na base desse ímpeto serão infindáveis e seguramente variarão muito de produto para produto ou de marca para marca. Mas, têm que existir. E, para além disso, se se mantêm no tempo, como no caso do Hofbrauhaus e da Arte da Guerra, é seguramente porque assentam em características muito dificilmente replicáveis.

Não faltam livros sobre estratégia militar e empresarial. Marcas de cerveja e cervejarias, são aos milhares. E, no meio de todo este ambiente competitivo (bem sei que no caso da cerveja HB, a marca é legalmente protegida desde 1879), estes dois produtos subsistem e evoluem. E, apenas, pela decisão livre de milhares de consumidores.

Não criei ainda um produto que venha a aguentar-se 400 anos e, definitivamente, nunca escrevi um livro. Enquanto esse momento não chega, chamo o funcionário de ar carrancudo e peço uma outra caneca de cerveja. Afinal, não era assim tanta…

Com um abraço do,
Hugo Belchior

 

 

 

7 aspectos a ter em conta antes de lançar o seu negócio

Convite webinar HB

Cada vez mais pessoas me fazem perguntas sobre o lançamento de um negócio próprio.

As dúvidas são muito variadas, indo desde “como começar?” a, “como arranjo o dinheiro necessário?”, passando por “como me posso diferenciar?” e “será que é o caminho indicado para mim?”.

Para ajudar a responder à última das dúvidas, resolvi gravar um webinar. Um webinar completamente gratuito onde apresento algumas reflexões que, espero, poderão ajudar os potenciais interessados, a definir se avançar com um projecto empresarial próprio é o caminho a seguir ou não.

Para poder assistir ao webinar, deverá agora clicar aqui e seguir as instruções.

Fico à espera dos seus comentários.

Um abraço,

Hugo Belchior

A doce arte de (não) procrastinar

“Never put off till tomorrow what may be done day after tomorrow just as well.”
― Mark Twain

Procrastinar é adiar. Adiar o que – pressupõe-se – não pode ser adiado.

Todos temos a nossa dose de procrastinação. Ou porque não nos apetece fazer uma coisa, ou porque sentimos que não a vamos fazer tão bem como deveríamos, ou porque não temos um plano suficientemente claro para a executar.

Saber procrastinar pode, contudo, ser uma verdadeira arte.

Adiar com inteligência um não-assunto que nos consumiria demasiados recursos hoje, e que só era prioritário para outrem. Adiar uma decisão num contexto de conflito, dando mais tempo ao oponente para se acalmar ou, ao contrário, para ficar mais nervoso – de acordo com o meu objectivo – enquanto preparo a minha acção. Procrastinar um assunto que só o tempo pode efectivamente resolver. São tudo exemplos da arte de bem procrastinar.

Na política, e até em contexto militar, procrastinar pode ser uma ferramenta eficaz e muito útil. O mesmo se passará nas empresas, em alguns momentos.

Ainda assim, diria que procrastinar, adiar o inadiável é, por norma, uma má prática. Um sinal de falta de disciplina pessoal e falta de organização empresarial. Adiar aquilo que realmente se tem que fazer é roubar o tempo, porventura o recurso mais valioso que existe em cada empresa. Deixar para amanhã aquilo que, com mais organização, mais determinação, melhor gestão de prioridades e melhor alocação de recursos, poderia ser feito hoje, pode ser um verdadeiro drama nas organizações.

A tentação de não se fazer hoje porque “não me apetece”, ou porque “ninguém me está a pressionar”, ou porque “não acho que seja grave deixar arrastar prazos” ou até porque “hoje não queria ter que enfrentar aquela situação (por algum motivo)”, são sinais que devem dar o alerta. O alerta de que nem tudo está bem.

Na Bwizer, empresa que co-fundei, no início deste ano lançámos um verdadeiro mantra: “Eu não procrastinarei, Tu não procrastinarás, Nós não procrastinaremos”. O simples facto de termos lançado este lema criou maior consciência individual e colectiva para a relevância do tema. E serve como barómetro para cada um, em cada momento: “Será que estou a procrastinar indevidamente?”, aumentando a percepção da escassez do tempo.

Está claro que, às vezes, procrastinar faz sentido. Aqui e ali pode até ser a melhor opção. Mas, nesses casos, a procrastinação deve ser uma opção consciente e não o mero resultado do falhanço de tudo o resto.

Faço contudo uma ressalva. Não creio que se resolva a procrastinação indevida apenas com lemas impactantes, por mais úteis que possam ser. Esta questão tem que ser atacada de forma integral. Tem que haver uma adequada organização interna que minimize as zonas cinzentas de responsabilidade. Deve haver uma forma clara de definir prioridades e de as comunicar às equipas. Importa ainda criar-se um sistema que permita visualizar, em cada momento, não apenas as tarefas/projectos em aberto mas também, a taxa de cumprimento de cada pessoa e cada equipa. E, arriscaria dizer, deverá considerar-se estas taxas no cálculo dos sistemas de incentivo.

Na Bwizer, seguramente com muitas falhas, estamos a procurar abordar este tema de forma global. A par do “lema da (não) procrastinação”, existe uma ferramenta informática que permite partir o trabalho em tarefas tão específicas quanto se quiser, definindo o colaborador (ou equipa) responsável e definindo deadlines. Esta ferramenta, o nosso gestor de tarefas, permite saber, em cada momento, quantas (e quais) tarefas estão por concluir. Esta informação é útil em si mesma já que ajuda a um melhor planeamento, e a uma execução mais cuidada. Mas permite também identificar as pessoas mais produtivas e as menos produtivas, tornando mais fácil criar um sistema que premeie os melhores. Permite ainda identificar alocações desadequadas de recursos, de modo mais ágil.

A guerra contra a procrastinação indevida, a procrastinação nefasta, será seguramente uma guerra nunca ganha contudo, é possível ir vencendo pequenas batalhas, uma de cada vez.

“You cannot escape the responsibility of tomorrow by evading it today.”
― Abraham Lincoln

Um abraço,

Hugo Belchior

34ª volta ao Sol

34Os anos parecem suceder-se a um ritmo crescentemente voraz. Pode parecer um lugar-comum mas é mesmo assim. Gosto contudo de pensar que há um lado bem positivo nesta sensação: é sinal de que gosto (muito) do que faço, que tenho sempre muitas coisas interessantes para fazer e muitos sonhos por cumprir.

Seja como for, a voragem dos dias deve fazer-nos pensar que tudo é efémero. Tudo é muito rápido. Talvez demasiado rápido. Importa por isso desfrutar do dia-a-dia.

Acho sempre curioso viver-se (só) pensando na próxima meta, no próximo grande feito, nas férias do ano que vem, no dia em que finalmente mudarei de emprego ou por exemplo, no dia do casamento. É claro que momentos especiais dão um sabor especial à vida e servem como marcos. São importantes por isso, sem dúvida. Contudo, a esmagadora maioria da nossa existência é passada… no dia-a-dia. Na rotina. A fazer as coisas que fazemos sempre.

E é mau, isso? Só se não gostarmos do nosso dia-a-dia! Se esse é o caso, há que tentar mudar; a vida é demasiado fugaz para insistirmos num caminho que não é o nosso. Mas, mesmo que não goste especialmente do seu dia-a-dia actual, já parou para pensar que há coisas do quotidiano que são tão preciosas? Talvez tenha uma mãe ou um pai e passe lá por casa todos os dias, para lhes dizer olá e dar um beijo. Parece que é só mais um dia, igual a todos os outros mas, já se deu conta que isso um dia vai acabar e que, provavelmente, vai ter muitas saudades? Ou talvez tenha um filho que está a crescer. Um dia, para si, é apenas mais um, talvez até a um ritmo alucinante mas, para ele, cada dia é um dia de novas conquistas. E, ou está lá para as testemunhar, ou não.

Não digo com isto que não devamos procurar levar a nossa vida a patamares mais interessantes – bem pelo contrário. O que digo é que isso é um trabalho diário, contínuo e, por esta razão,  aproveitar o dia-a-dia é realmente importante.
Procuro fazer crescentemente este exercício, sem com isso perder o ímpeto de querer ir mais longe e conquistar coisas novas. Esse ímpeto ainda não diminuiu. Faço-o todavia agora de maneira diferente, procurando saborear mais a jornada enquanto a percorro.

E há uma coisa que dá mais brilho à jornada de cada um de nós: testemunhar as jornadas das pessoas que nos são mais próximas. É realmente especial acompanharmos os percursos daqueles que connosco sempre partilharam – e continuam a partilhar – os seus objectivos, os seus anseios e as duas dúvidas.  E perceber que apesar dos altos e baixos que sempre há, seguem em frente, num percurso de evolução. E que quando, circunstancialmente, parece não seguirem em linha recta, sabemos que rapidamente ajustarão os seus caminhos. Talvez até com a nossa ajuda.

Poder acompanhar as vidas de quem mais gostamos dá sentido à nossa. Eu, sou bem mais rico pelos amigos que tenho – poucos mas fantásticos. E hoje, que celebro 34 anos, sinto que os celebro mais ao referir-me a um grande amigo em especial e, através dele, estender um abraço a todos os outros. Um amigo de há mais de 20 anos. Um amigo que cedo estabeleceu para si metas bem ambiciosas e que, paulatinamente, tem atingido cada uma delas. O meu bom amigo Fernando Garcês. O Fernando vive bem longe de Portugal há muitos anos. Agora, vive na Califórnia, em San Diego. Investiga o HIV no Scripps Research Institute, uma verdadeira referência internacional. Dou graças por ter um amigo como o Fernando, e testemunhar o seu percurso é algo que ajuda a dar sentido aos 34 anos que hoje cumpro.

Penso às vezes na morte e naquilo que alimenta o meu ímpeto para trabalhar arduamente todos os dias. Pensar no meu amigo Fernando ajuda-me a ter algumas respostas. Um dia, quando tudo acabar, espero apenas que as pessoas mais próximas, as que me conhecem verdadeiramente, digam aos seus filhos: “Tive em tempos um amigo, o Hugo, que era um belo amigo. Tinha as suas coisas, é certo mas, era um tipo às direitas!”.

Tenho procurado trabalhar neste sentido ao longo destes 34 anos. Tenho energia redobrada para continuar este caminho nos próximos 34.

Um abraço do,
Hugo Belchior

A razão deste blog

Gosto de negócios. Gosto de empresas. Gosto de pessoas que lançam projectos, de pessoas que fazem acontecer.

Quero partilhar as minhas reflexões sobre estes temas, esperando que isso possa ser útil a alguém.

Quero dar a conhecer projectos interessantes e pessoas que vale a pena conhecer.

Quero ajudar a dar o empurrão a quem ainda não avançou com o seu projecto mas tem vontade e valor para o fazer.

Quero sobretudo aprender. Quero aprender com quem sabe mais do que eu – e são tantos!

Há pessoas que têm percursos de crescimento económico rapidíssimo, outros mais lentos. Uns acertam à primeira, outras nunca atingem o que querem.

Há pessoas brilhantes, com ideias soberbas mas que, por um conjunto de razões, nunca encontram o melhor momento para dar o tal passo em frente e outros, mesmo com informação muito insuficiente e parcos recursos, avançam.

Por que é que tudo isto acontece?!

Há tanto a aprender! Tantas coisas sobre as quais vale a pena reflectir. Há erros que alguém cometeu que eu poderei evitar. E há erros que eu cometi e que me ajudaram a crescer e que merecem ser partilhados com outras pessoas.

Há momentos difíceis que se ultrapassam melhor a partilhar com os outros. Há momentos de glória que se desfrutam mais em conjunto.

E há, sobretudo, o génio humano que arranja sempre uma forma nova ou melhor de fazer as coisas. A criatividade que surpreende. A resiliência que inspira. A dedicação que estimula. O serviço ao cliente que surpreende. A visão de futuro, que tudo alimenta.

Gosto de negócios. Gosto de empresas. Gosto de pessoas que lançam projectos, de pessoas que fazem acontecer.

O blog que agora inicio pretende ser um espaço de partilha sobre tudo isto. E sobre aquilo que aqueles que tiverem algum interesse em me acompanhar, possam ir sugerindo.

Vamos a isso?

Um abraço,

Hugo Belchior