Uber, Sindicatos, Ordens e a necessidade de proteger o cliente…de si mesmo

UberJá muito se falou sobre a decisão do tribunal sobre a operação da Uber em Portugal, tendo deliberado no sentido da sua proibição. Deixo desde já claro que independentemente do juridiquês que aqui se possa aplicar, sou por princípio contrário às decisões que visem a manutenção de quem já está no mercado, protegendo-os de concorrentes mais inovadores.
Não me vou alongar excessivamente sobre este facto em concreto até porque me revejo bastante no artigo de José Manuel Fernandes, no Observador, e cuja leitura aconselho.

O que me importa aqui explorar é que esta postura de defesa dos poderes instalados é transversal a vários blocos da sociedade portuguesa. Demasiados. Os tribunais serão apenas um deles. Os sindicatos e as ordens profissionais – que na maior parte dos casos, nada mais são que sindicatos travestidos, apesar da sua missão ser a defesa do interesse público e não a defesa da corporação, são outro dos blocos que seguem o mesmo registo.

Conheço especialmente o sector da saúde e o das suas corporações. Em todas que vou conhecendo, sem excepção, há uma brutal pulsão regulatória e proteccionista. Uma pulsão sistematicamente apresentada externa e internamente como algo que visa a defesa do superior interesse do utente (curiosamente, muitas das posições, desde logo no que toca aos “limites de actuação” de cada profissão, são muitas vezes concorrentes, ficando-se sem saber quem melhor defende os interesses dos cidadãos…), procurando-se omitir o óbvio: aquilo que realmente se visa é proteger a corporação e os seus actores actuais (e nem sequer, obviamente, os seus actores futuros).

É tão mais sedutor proteger juridicamente um qualquer mercado do que ter que o proteger pelo  real valor acrescentado dos seus actores – o que implica ter que antecipar ou reagir à concorrência, desde logo à concorrência disruptiva – que, definitivamente, não há corporação que não tente seguir este caminho.

A história da Uber e da reacção dos taxistas adquire assim um impressionante paralelismo com o atavismo de tantas corporações profissionais: quer-se limitar a concorrência, mesmo que essa concorrência seja sancionada pelos clientes!

O desprezo pelo cliente, pela sua liberdade de escolha e, por esta via, o fim do incentivo à inovação, é angustiante e não augura nada de bom neste velho Portugal e nesta velhíssima Europa. Nestes momentos temo, ainda com mais intensidade, pelo nosso futuro colectivo e dá-me vontade de emigrar. Não à procura de subsídios, mercados maiores ou melhor clima. Emigrar apenas em busca de maior liberdade! Em busca de um lugar onde os poderes instalados podem efectivamente ser desafiados, sem ter que se bloquear a inovação com providências cautelares ou greves. Um lugar onde é o cliente – cada um de nós – que está no centro das preocupações. Um lugar sem rendas garantidas para quem presta um serviço, seja ele qual for. Um lugar onde o rendimento vem do mérito, determinado pela livre escolha do cliente.

Felizmente, naquilo que posso controlar, que é a estratégia da minha empresa, já vamos dando passos no sentido de estarmos menos dependentes do jugo opressor da velhinha pátria e do abraço protector – Graças a Deus – dos nossos taxistas, tão zelosos dos seus serviços de excelência…

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