Cerveja, Sun Tzu e o valor acrescentado

Hofbrauhaus 1Na semana passada fui a Munique para uma reunião e aproveitei para um pouco de turismo. Dei comigo num dos bares tradicionais mais famosos da cidade, o Hofbrauhaus.
É talvez o mais conhecido bar/restaurante de Munique, ponto de paragem obrigatório de cada visitante da cidade, e que figura em todos os guias de viagem. A sua história iniciou-se em 1589 e confunde-se com a história da própria cerveja bávara. Uma bela cerveja, que tem sido testemunha de incontáveis histórias ao longo dos séculos e… de imensas receitas fiscais para o Estado a partir do momento em que os governantes se aperceberam do potencial financeiro de tão apreciada bebida!

 
Este restaurante tem milhares de lugares mas , sistematicamente, não são suficientes para toda a procura. O ambiente é realmente interessante e convida a novas visitas.

Estava eu a degustar, pouco a pouco, 1L daquela belíssima cerveja – depois das 18h não servem menor quantidade – quando decidi ocupar o tempo de alguma maneira.
Vasculhei o meu telefone o descobri a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, livro que nunca tinha acabado de ler.

Estava a ler a obra deste general chinês do séc., VI AC, ainda hoje lido, estudado e seguido, e a beber uma cerveja com 400 anos de história, e pus-me a pensar no conceito de valor acrescentado. (Não sei se abona muito em relação ao meu estado mental mas, foi no que pensei.)
Hofbrauhaus 3
Haverá melhor prova de valor acrescentado sustentado que o teste do tempo? Que marcas (ou produtos) que hoje conhecemos cá estarão daqui a 400 anos? Ou que autores serão lidos e respeitados daqui a mais de 2000 anos?
E, por que é que ainda hoje bebemos aquela cerveja e enchemos o bar – ao ponto de tornar o serviço ao cliente em algo secundário (não é necessário!) – e por que razão continuamos a ler e a estudar Sun Tzu?

Porque milhões de pessoas querem aquela cerveja, naquele bar e, mais pessoas ainda (ou talvez seja ao contrário), querem ler Sun Tzu. Porque lhes reconhecemos valor, em suma!

Mas, o que é ter valor acrescentado? É conseguir aportar alguma vantagem ao consumidor e/ou promover um ímpeto de adicional de compra – não há valor acrescentado se não se traduzir em sucesso comercial.

As razões na base desse ímpeto serão infindáveis e seguramente variarão muito de produto para produto ou de marca para marca. Mas, têm que existir. E, para além disso, se se mantêm no tempo, como no caso do Hofbrauhaus e da Arte da Guerra, é seguramente porque assentam em características muito dificilmente replicáveis.

Não faltam livros sobre estratégia militar e empresarial. Marcas de cerveja e cervejarias, são aos milhares. E, no meio de todo este ambiente competitivo (bem sei que no caso da cerveja HB, a marca é legalmente protegida desde 1879), estes dois produtos subsistem e evoluem. E, apenas, pela decisão livre de milhares de consumidores.

Não criei ainda um produto que venha a aguentar-se 400 anos e, definitivamente, nunca escrevi um livro. Enquanto esse momento não chega, chamo o funcionário de ar carrancudo e peço uma outra caneca de cerveja. Afinal, não era assim tanta…

Com um abraço do,
Hugo Belchior

 

 

 

0 comentários em “Cerveja, Sun Tzu e o valor acrescentado”

  1. Não sei se a Bwizer durará 400 anos mas dou muitas vezes comigo a pensar no trabalho q tem feito em pleno tempo de crise. Nem sempre é fácil manter a perseverança mas acho que podia facilmente promover uma ação sobre ‘como não desistir e seguir em frente’. Eu pagava para o ir ouvir 🙂 Beijinhos e parabéns Hugo.

  2. Olá Hugo

    Fui ‘a Wikipédia ver se alguém se lembrou de incluir a Hofbräuhaus na lista das empresas mais antigos do mundo e lá está (em ingles)
    https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_oldest_companies
    Como há um tempo atras tinha visto que lá faltava a Sandeman e a Ferreira’s, (hoje Sogrape), digitei “portug” no campo de busca para ver todas as empresas portuguesas na lista. Por incrível serendipidade, apareceu isto, https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_oldest_companies#cite_note-20, que achei que veio mesmo a calhar.
    http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/4-licoes-de-empresas-milenares/65430/

    Um abraco,
    Rui (Joanesburgo)

    PS: O seu site nao permite o uso do ‘right-click’ para poder usar o corrector ortográfico integrado.

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